O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania,, 000 bet casino - Silvio Almeida, lamentou o assassinato da liderança quilombola Maria Bernadete Pacífico, executada aos 72 anos de idade, na noite desta quinta-feira (17), em Simões Filho, região Metropolitana de Salvador.
“Nós não queremos mais mártires. Queremos que os defensores dos direitos humanos possam trilhar esse caminho em direção a uma sociedade mais justa, vivos e junto conosco. O dever do Estado agora, em um governo de esquerda, é aperfeiçoar os mecanismos de proteção aos defensores de direitos humanos”, disse o ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em um jantar promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na noite desta sexta-feira (18).
“É responsabilidade do Estado. Eu estou falando como ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania. Eu assumo a minha responsabilidade, em nome do Estado brasileiro. Nós não podemos aceitar o absurdo desse que aconteceu com Bernadete. Nós não podemos aceitar essas falhas do Estado brasileiro e eu falo como ministro de Estado.”
O ministro também afirmou que há uma série de “problemas” estruturais no Brasil, que não permitem a proteção plena dos defensores de direitos humanos. Nesse sentido, disse que o povo brasileiro precisa estar organizado para mudar a sociedade.
“Vivemos num país que despreza os defensores de direitos humanos e por isso há uma série de problemas que existem mesmo quando o Estado quer defender os direitos humanos. A população que morre não depende só de boa vontade. Só pode mudar a situação do Brasil com o povo organizado. Se o povo não estiver organizado, não vamos conseguir fazer nada. O papel do governo popular, de esquerda, é ajudar o povo a se organizar. A sociedade não vai mudar sem uma conexão fundamental com o povo”, afirmou.
Em 2016, Bernadete foi incluída em um programa de proteção federal, mas com execução de responsabilidade do estado, pouco antes de seu filho ser assassinado. Fábio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, foi executado com 10 tiros, em frente à Escola Centro Comunitário Nova Esperança, em Pitanga dos Palmares, a duas quadras da casa de sua mãe.
“O programa de proteção eram as câmeras lá onde ela morava, na roça, e a polícia ia lá uma vez no dia, ficava 20, 30 minutos e voltava. Não ficava 24 horas. Na hora que executou minha mãe dentro de casa, junto com os netos, cadê a proteção?”, disse Jurandyr Pacífico, outro filho de Bernadete, à Agência Brasil.
Além de sua atuação como liderança em defesa dos direitos de quilombolas, Maria Bernadete também vinha cobrando das autoridades mais segurança para o Quilombo Pitanga dos Palmares. Ela, inclusive, chegou a falar sobre o assunto com a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Estava inserida em algum programa de proteção do Estado brasileiro que miseravelmente não funcionou. O Brasil é um país tão absurdo que mesmo quando reconhece de alguma forma as ameaças a um defensor dos direitos humanos, as condições estruturais não permitem a proteção das pessoas”, disse o ministro Silvio Almeida nesta sexta-feira (18).
Execução de Maria Bernadete Pacífico
Liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico foi executada na noite da última quinta-feira (17), dentro de um terreiro no município. Ela também era membro da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).
Em nota, a Conaq lamentou a execução de Bernadete. “Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós. Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a nos orientar e às gerações futuras.”
“Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato de seu filho Binho e bravamente enfrentou todas as adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho. Nessa luta, com coragem, desafiou o sistema e, como tantas mulheres, colocou seu corpo e sua voz na defesa de uma causa com a qual tinha um compromisso inabalável. Sua voz ressoava não apenas nas reuniões e eventos, mas também nos corações daqueles que acreditavam na mudança”, diz a Conaq em nota.